Beto Preto admite que quarentena restritiva não alcançou objetivo e teme chegada do frio

O secretário de saúde do Paraná, Beto Preto, admitiu nesta quarta-feira ontem (15), em entrevista ao telejornal Meio Dia, da RPC TV,  que a quarentena restritiva, de 1 a 14 de julho não conseguiu alcançar o objetivo de aumentar substancialmente o isolamento social nas sete regionais com maior número de casos de Covid-19. “Nós chegamos a 41,42, 45%, mas precisamos chegar a pelo menos 50%. Isso nos leva a acreditar que o decreto teve valor, mas não teve adesão total”, ressaltou ele. O decreto da quarentena ficou em vigor em sete regiões do estado por 14 dias e não foi renovado na terça (14),  justamente quando o Estado bateu o recorde de mortes, 57 em 24 horas. No litoral, as medidas restritivas continuam valendo até o dia 21 de julho. Já em entrevista ao programa Balanço Geral, da RIC, o secretário reforçou que nem mesmo o movimento nos ônibus do transporte coletivo da Grande Curitiba registraram queda substancial.

Segundo ele, a quarentena deve ter desalecerado um pouco o avanço da coronavírus do Paraná, mas o pico pode estar próximo de acontecer  com a chegada do frio e da chuva. “O isolamento social é a única medida para reduzir a curva de contaminação, por que o vírus está aí e muitas pessoas acham que não serão contaminadas”, afirmou ele. Beto Preto não descarta o retorno de uma quarentena restritiva determinada pelo estado, mas não vê possibilidade ainda de um lockdown total: “Não vejo que há espaço, nesse momento, para um lockdown total. Se for necessário voltar a uma quarentena mais restritiva nos próximos dias, nós estamos preparados pra tomar essa medida”, afirmou.

De acordo com dados  apresentados por Beto Preto no telejornal da RIC, antes da pandemia o movimento do transporte da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC) era de aproximadamente 360 mil pessoas por dia. Com a pandemia o número foi reduzido em mais de 50%, chegando a uma média de 130 mil pessoas. Mas durante a quarentena restritiva, a diminuição foi menor que o esperado, chegando a ter fluxo de 115 mil usuários por dia. “Aqui em Curitiba e região metropolitana o transporte coletivo é um dos grandes gargalos de contágio. As pessoas continuam a sair e não houve o escalonamento de horários que deveria ser feito”, destacou Beto Preto. 

Beto Preto garantiu nas duas entrevistas que nenhum paciente de Covid-19 ficou sem atendimento na UTI: “O máximo que aconteceu foi a necessidade de transferir o paciente para outras cidades. Mas o Paraná tem leitos e a cada semana ativamos mais leitos”.

Decisão não foi política

Beto Preto destacou ainda que a decisão sobre a não renovação do decreto nas sete regiões não foi política. “Não queremos fechar nada, queremos que o cidadão tenha saúde. “Nós fizemos no tempo correto [a quarentena restritiva] com bastante respeito pela atividade econômica do estado e pela população do Paraná. A nossa equipe se abate todos os dias com os óbitos que vão acontecendo”, afirmou. Em nenhuma das duas entrevistas, no entanto, o secretário conseguiu explicar porque afrouxar as medidas é uma melhor saída técnica para segurar os números de contaminações e mortes, que não param de crescer no Paraná.

Medida foi criticada por especialistas

A decisão do governo do Paraná de não renovar a quarentena restritiva recebeu críticas ainda na noite de terça-feira. Uma delas veio do professor Pedro Hallal reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ele foi responsável pelo maior estudo sobre a Covid-19 no Brasil, “Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil: Estudo de Base Populacional”, financiado pelo Ministério da Saúde, e divulgado na semana passada.

Segundo Hallal, em entrevista ao Jornal Boa Noite Paraná, ainda não era a hora de se flexibilizar medidas de combate à Covid-19. Segundo ele, a flexibilização deve ocorrer apenas quando há queda acentuada dos casos.
O estudo da UFPel trouxe dados de 133 cidades brasileiras, espalhadas pelo território nacional. Embora não tenha o retrato do país, mostrou áreas em suas diferentes etapas de enfrentamento à Covid-19.Hallal lembrou que todas os países ou cidades que não agiram desta forma tiveram a alta de casos nas semanas seguintes.

O exemplo mais importante é o dos Estados Unidos, que depois de se tornar o epicentro da pandemia no mundo, começou a relaxar as restrições e agora vê estados voltarem a ter que tomar medidas mais severas, como a Califórnia, que voltou a proibir a abertura de bares.