A CoronaVac de Serrana

 

Pesquisadores do Butantan e outras instituições publicaram o estudo “Dynamics of SARS-CoV-2 Variants of Concern in Vaccination Model City in the State of Sao Paulo, Brazil”, em 29 de setembro último, na revista Viruses, que mostrou o sucesso do Projeto S do Butantan, que consistiu em vacinar 80% da população-alvo de Serrana em fevereiro de 2.021 com a vacina CoronaVac.

O Projeto S é o primeiro estudo clínico do tipo randomizado para demonstrar a eficácia de uma vacina no mundo real e o seu efeito indireto na população não vacinada, conduzido durante uma pandemia e sem grupo controle, ou seja, a vacinação protegeu todos os participantes, já que nenhum deles recebeu placebo.

Com um método inovador, pesquisa escalonada por conglomerados, os cientistas dividiram o município em 25 áreas, formando quatro grupos que foram vacinados em períodos distintos, em ordem sorteada publicamente.

O Projeto S também contribuiu para aumentar a confiança das pessoas na vacina, informando a população sobre os dados de eficácia da CoronaVac a cada etapa do estudo e envolvendo influenciadores e autoridades locais na campanha de imunização.

Os pesquisadores analisaram 4.375 genomas virais completos obtidos entre junho de 2020 e abril de 2022, período que engloba desde a introdução inicial do Sars-CoV-2 até o processo de vacinação com pelo menos duas doses. Desses, foram identificados 1.653 casos com a variante delta (37,8%), 1.053 de gama (24,1%), 1.513 de ômicron (34,6%), 75 de zeta (1,7%) e 81 referentes a outras linhagens (1,9%). Embora houvesse participantes de todas as idades, a maioria tinha entre 21 e 50 anos.

A substituição de linhagens do SARS-CoV-2 na cidade foi semelhante ao restante do país. Começou com as linhagens ancestrais (B.1.1.28 e B.1.1.33) e depois passou para gama, delta e, mais recentemente, ômicron. No entanto, em Serrana, a pesquisa revelou que a maioria dos casos para as três últimas variantes foi leve: 88,9%, 98,1%, 99,1%, respectivamente.

Por meio da vigilância genômica foi possível, além de monitorar a disseminação das principais variantes do vírus na cidade, detectar algumas raras, como a C.37, que circulou intensamente em países andinos, mas sem disseminação significativa no Brasil. Ou a variante alfa que, embora tenha sido detectada no local, não se espalhou para outras regiões. Ao todo, foram identificadas 52 sublinhagens de Sars-CoV-2 na cidade.

A cidade foi usada como modelo para os estudos, onde, pela primeira vez no Brasil, foi aplicada a vacina Coronavac em massa em adultos maiores de 18 anos, antes mesmo do início do programa oficial de vacinação no país.

Os pesquisadores apontam que a aplicação da vacina esteve relacionada à redução da morbidade e mortalidade, especialmente durante as ondas de gama e delta. Comparam ainda com a cidade de São José do Rio Preto (SP), onde durante a onda da variante gama houve maior taxa de mortalidade principalmente entre jovens não vacinados. E não custa lembrar que o pesquisador Dimas Covas foi o único a prever a necessidade de vacinação regular contra o novo coronavírus.

Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.