Quando você encontra o Padre João no Paraguaizinho, em Cianorte
Há algum tempo atrás, quando o Papa Bento XVI afastou-se de suas tarefas junto ao Papado, abdicando de seu cargo, pela televisão, eu vi o mesmo, com sua túnica branca, andando pelos jardins do Vaticano, locais privados, onde poucos andam por lá. Silencioso, caminhava pelas veredas do jardim. Meditando? Rezando? Ou achando que tomou a atitude certa ao se afastar ainda em vida do Vaticano? Aí pensei: um Papa tem mesmo que descansar, depois de tantas tarefas amargas enfrentadas ao longo do tempo de sua vida dedicada a Deus!
Passou um tempo, passeando pelo Vaticano, que é uma cidade-estado cercada por Roma, na Itália, pude apreciar nos museus, antigas esculturas romanas, afrescos renascentistas e encantada fiquei ao levantar os olhos e apreciar o teto da Capela Sistina, no qual Michel Ângelo abriu sua arte de desenhar e pintar para o mundo e nunca mais foi esquecido. E eis que eu, ao sair da visão das artes, em pleno pátio do Vaticano me deparei com o Papa Francisco.
Também vestido de branco, luminoso e em seu carro ia abençoando as pessoas onde o olhar alcançava… Isto não estava na minha agenda e nem previsto. A surpresa de vê-lo de tão perto, mais magro do que hoje, com o olhar piedoso, parece que ele me chamava pelo nome para ir até ele. Lógico que não deu tempo e me perdi na multidão.
Porém, o tempo dos encontros nunca se acaba. Eis que eu andava, na semana passada, pelas ruelas estreitas do Paraguaizinho, em Cianorte, em busca de um abajur que ao tocar ele acende sozinho; olhava aqui, olhava acolá… Sem prestar atenção nas pessoas que estavam por lá fui andando e de repente, ouvi meu nome ser chamado… Não muito alto, mas alguém falou: Izaura. Olhei para um senhor de cabelos brancos, sorriso largo, dentes bonitos e expressão alegre e era ele mesmo que me chamava. Aí ele pergunta: “Não está me conhecendo?” Sim, eu sabia que conhecia aquele homem de algum lugar, já havia falado com ele; pensei que fosse algum daqueles detentos que eu atendo e que estivesse em liberdade, mas não tinha a expressão de que tivesse cometido algum delito… Poderia ser um daqueles meus alunos perdidos no tempo… Seus olhos eram sorridentes e sua expressão de alegria e de afeto indicava ser alguém de bom coração.
Pode ser quem, meu Deus? E aí aquele homem calmo, bonito, sorridente me diz: “Sou o Padre João, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima”.
Meu chão caiu! Não é nada comum encontrar um padre sentado numa cadeira, com uma xícara de café na mesa, em frente a uma pequena lanchonete, com uma senhora do lado dele em pleno Paraguaizinho! E olho bem pro Padre João e vejo o homem elegante, vestido com uma calça jeans, rasgadinha, não pelo tempo, mas pela modernidade, simpático, me oferecendo café… Estivemos juntos na Celebração do Dia de Nossa Senhora de Fátima e eu o vi de perto pela segunda vez, pois, por mais que me esforce, nos bancos da igreja onde sento para assistir Missas estou sempre distante e não consigo gravar a imagem dele com nitidez. Eu sempre vejo o Padre de longe. E agora, em pleno Paraguaizinho ele me chama pelo nome e o vejo de perto, e que
susto me deu quando ele me disse: sou o Padre João!
E o que é que o Padre João está fazendo aqui?
Com humildade ele me responde que veio abençoar o pequeno negócio daquela senhora sentada ao seu lado, para que tenha sorte e prospere com seu esforço e com seu trabalho. Veio trazer o Espírito de Deus para aquele lugar. E a minha ira repressora passou na hora… Depois me perguntei por que um padre tem que estar fora do seu reduto cristão?
Porque como qualquer ser humano que foi aproveitado por Deus para evangelizar tem mesmo que sair às ruas, aos bares, ás festas, aos templos e tal como Cristo fez, andar pelas ruas, passar pelas multidões, tocar nas pessoas, para que de suas mãos saia uma graça, uma graça de Deus.
Bendito e feliz encontro com o Padre João!
Izaura Varella – Cidadã Cianortense