Uma segunda Lua da Terra
Todos conhecem a Lua, nosso satélite natural, maior que Plutão e todos os planetas anãos conhecidos, e que orbita a Terra a cada 28 dias, aparentemente. Mas, pouca gente sabe que a Terra tem alguns asteroides que orbitam o Sol em uma quase-órbita terrestre. Alguns são até considerados luas da Terra, como o 3753 Cruithne, descoberto em 1997.
Cruithne é um asteroide de cerca de 5 km diâmetro, não gira em torno da Terra em uma elipse, como nossa Lua, mas gira em torno do sol no que é chamado de órbita de ferradura, sempre à frente da Terra em torno do Lagrange 4 (L4), um dos pontos orbitais estáveis descoberto pelo cientista que deu o nome, e este ponto fica 60º à frente da órbita da Terra (há o L5, 60º atrás, o L1, entre o sol e a Terra, L2, depois da Terra e o L3 do outro lado da sol). Cruithne deve aproximar-se com Vênus daqui 8.000 anos e há a possibilidade de que isso mude sua órbita, tirando-o das proximidades terrestres.
E por que Cruithne pode ser considerado uma segunda lua se não circula a Terra? Órbitas em ferradura são comuns no sistema solar, por exemplo, Saturno tem algumas luas assim. Cruithne completa a ferradura a cada 800 anos. E não é única, há outros asteroides em situação semelhante: 2002 AA29, 2003 YN107 e 2015 SO2.
O asteroide 2002 AA29 tem cerca de 100 metros e não orbita um ponto de Lagrange, antes, ele se aproxima à frente da Terra, cerca de 5,85 milhões de km e afasta-se, até chegar do outro lado em distância semelhante completando a ferradura.
E com órbita semelhante, foi descoberto o 2003 YN107, que é um pequeno asteroide de tamanho estimado entre 10 e 30 metros, mas sua estranha órbita o colocou próximo à Terra entre os anos de 1997 e 2006, voltando à ferradura depois. Deverá repetir essa situação de quase órbita daqui a 600 anos.
O 2015 SO2 é um asteroide do tipo Atenas, com órbita entre o sol e a Terra, como os acima descritos, seguindo órbita em formato de ferradura, também como os dois anteriores, mas antes de seu encontro mais recente com nosso planeta, em 30 de setembro de 2015, ele era um asteroide tipo Apolo, com órbita além da Terra.
A interação gravitacional do 2015 SO2 com a Terra faz com que sua órbita mude, de modo que seu período médio seja de um ano, alternando entre tipo Atenas e Apolo a cada 113 anos. O diâmetro dele é estimado entre 50 e 111 metros.
Outro quase-satélite interessante é o 69219 Kamo?oalewa (2016 HO3), um asteroide de 40 a 100 metros de diâmetro, de rotação rápida, próximo à Terra do tipo Apolo e o mais estável pseudo-satélite conhecido. Ele recebeu o nome de Kamo?oalewa, uma palavra havaiana que significa objeto celeste oscilante. É composto de silicatos semelhantes à Lua, ou seja, pode ser um ejetado lunar.
O segundo maior objeto próximo da Terra é o 2020 XL5 que é um asteroide que oscila em torno do ponto de Lagrange 4, com diâmetro estimado entre 1100 e 1260 metros. Asteroides que ocupam o L4 ou o L5 são chamados de Troianos e a Terra tem mais um troiano ocupando o L4, é o asteroide 2010 TK7, de 300 metros de diâmetro. No ponto de Lagrange 5 não foram encontrados asteroides.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano