Cidades inteligentes, propulsoras de inovações

Luiz Fernando Machado (*)

A vida nas cidades deve passar por profundas transformações nas próximas décadas. Com a oferta de produtos e serviços que sequer estamos pensando no momento, a tecnologia 5G promoverá mudanças históricas na humanidade. Nos próximos anos, avançaremos no uso intensivo da Internet das Coisas (IoT), da Inteligência Artificial, do Big Data, que abrirão as portas para a utilização de sistemas interligados e digitais. Tudo isso deve trazer inovações para o cotidiano dos municípios, proporcionando melhoria na qualidade de vida das pessoas.

As Cidades Inteligentes começam a florescer oferecendo novas experiências e oportunidades com o uso das ferramentas tecnológicas, reduzindo custos de infraestrutura, operação e manutenção dos serviços municipais. A tecnologia também facilita e democratiza o acesso dos cidadãos às informações públicas. Mais eficientes, as soluções digitais ampliarão os benefícios à população.

O Brasil tem pela frente um grande potencial para o desenvolvimento de ferramentas com a nova tecnologia. Além da agricultura, cada vez mais aderente às novas ferramentas digitais, setores como indústria de transformação, administração pública, saúde, transporte e construção vão demandar novos instrumentos. De acordo com projeções dos estudos da Agenda 5G, o Brasil tem potencial de alcançar R$ 101 bilhões em demanda de soluções em software até 2030. Esse mercado criará empregos de qualidade e potencializa a competitividade internacional do país.

De acordo com o levantamento Componentes do Índice de Maturidade GovTech 2022, promovido pelo Banco Mundial, o Brasil alcançou a segunda posição no ranking de maturidade em governo digital. O país subiu cinco posições de 2021 para o ano passado. O estudo mostra a evolução dos serviços públicos para a era digital e analisa a transformação social e econômica dessas mudanças no dia a dia dessas localidades. No total, 198 países participaram da pesquisa e o Brasil ficou atrás apenas da Coreia do Sul.

Apesar do grande avanço verde-amarelo, o Banco Mundial analisa que a estrutura tecnológica ainda precisa alcançar uma parcela significativa da população. A instituição mostra que 140 milhões de brasileiros podem acessar esses serviços, mas 77 milhões de cidadãos estão excluídos dessas ferramentas. Até outubro de 2022, dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que a telefonia móvel contabiliza 261,3 milhões de acessos e 231,9 milhões de acessos em banda larga móvel no país.

A tecnologia 5G é um campo fértil para o desenvolvimento de uma indústria limpa e de ponta, com potencial para revelar talentos e criar empregos altamente especializados. Estudo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) elenca os principais países depositantes de patentes relacionadas às tecnologias voltadas às Cidades Inteligentes. Os Estados Unidos lideram a lista, seguidos por China, Japão, Suécia e Brasil.

Os municípios têm pela frente boas oportunidades para aplicar a nova tecnologia como ferramenta para o uso de dados como subsídio de políticas públicas e decisões. Em Jundiaí, criamos a infovia digital, que possibilitou a implantação de internet de alta velocidade em todos os equipamentos públicos, a teleinterconsulta, além de wifi gratuito em praças e parques. Além disso, oferecemos serviços via portal ou aplicativo Jundiaí, para acesso e registro das demandas da população. Implantamos ainda o Observatório Jundiaí, um portal com 300 indicadores vinculados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), formulados pela ONU (Organização das Nações Unidas). A ferramenta traz ainda 100 indicadores voltados à primeira infância, incluindo dados sobre a cobertura de vacinas, saúde bucal, internações e matrículas escolares.

A pandemia da Covid-19 desafiou os municípios na criação de ferramentas para atendimento da população. Uma pesquisa da empresa IDC mostrou que 62% dos gestores públicos afirmaram que planejaram uma forte estratégia de prestação de serviços a cidadãos e empresas. Porém, o horizonte é muito mais fascinante. Todo o planejamento público pode se beneficiar do uso de novos dados oferecidos pela tecnologia. No transporte público, por exemplo, esses instrumentos podem indicar a necessidade de ampliação da oferta de ônibus em determinados horários e linhas. Pesquisas internacionais mostram ainda que o uso de dispositivos conectados à rede 5G possibilitará a redução entre 8% a 10% de casos fatais e de violência no trânsito, bem como a redução de 30% da criminalidade.

O uso intensivo de ferramentas tecnológicas pelos municípios contribui ainda para trazer soluções mais ágeis para os gargalos da administração. Por isso, também é fundamental investimento em treinamento e estímulo às equipes. Com um time afinado às novas tecnologias, é possível focar no atendimento humanizado, garantindo a melhoria da qualidade dos serviços.

(*) Luiz Fernando Machado é bacharel em direito e prefeito de Jundiaí (SP).