Gabinetes de parlamentares são “autênticas” microempresas

Vejam aqui o escárnio e a imoralidade de um irrelevante parlamentar da República, que só quer tirar proveito da coisa pública: “Após três mandatos como deputado federal, Eduardo Gomes (PL-TO) começou seu mandato de senador em 2019 com 54 servidores comissionados (sem concurso público). Em quatro anos, aumentou o gabinete para 82 assessores. Gomes emprega tanto quanto uma empresa de porte médio no ramo de serviços. Segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), uma empresa média tem de 50 a 99 funcionários. O número de funcionário não corresponde a atuação legislativa: em 2023, o senador apresentou três projetos de lei”. Para ler a matéria clique em Senadores incham gabinetes e contratam até 82 assessores sem concurso público (terra.com.br).

Como acreditar na seriedade de nossos parlamentares diante da coisa pública, quando os seus gabinetes são transformados em verdadeiros antros de empreguismo, sem concurso público, para beneficiar a corriola de amigos e correligionários? Não há nenhum respeito ao contribuinte, que paga a conta, nem aos milhões de desempregados, que não tiveram a sorte de ser político ou ter padrinho político.

É simplesmente revoltante o comportamento do político brasileiro no trato da coisa pública. Querem se considerar íntegros, mas não passam de velhacos de vestal duvidosa.

Podemos afirmar que a farra do dinheiro público nos gabinetes de parlamentares, em Brasília e fora da capital federal, com a contratação de servidores sem concurso público, só acontece porque órgãos como TCU, CGU e Ministério Público, responsáveis pela fiscalização e controle da administração pública, não operam com a eficiência devida. Por outro lado, não fosse a prática jornalística fiscalizadora e investigativa, a sociedade não ficaria sabendo da ocorrência de irregularidade e corrupção no poder público. Cabendo ressaltar que a fiscalização e o controle da administração pública são responsabilidades compartilhadas entre os órgãos de controle, os gestores públicos e a sociedade.

Que moral tem, por exemplo, os senadores Eduardo Gomes (PL-TO), Rogério Carvalho (PT-SE), Randolfe Rodrigues (sem partido), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Osmar Aziz (PSD-AM) e outros, para se apresentarem como representantes da sociedade no Parlamento, se eles não demonstram respeito com a coisa pública ao permitirem o inchaço de servidores, sem concurso público, em seus gabinetes? A pouca-vergonha é tão grande que os senadores não corrigem brechas no regulamento interno do Senado, que possibilita gastos com vale-alimentação de novos assessores acima dos limites permitidos.

Certamente, a mesma situação de desrespeito com a coisa pública ocorre na Câmara Federal. Esses sacripantas parlamentares inescrupulosos não se preocupam com a imagem do Congresso Nacional. Deveriam se espelhar no exemplo do Parlamento sueco, onde os gastos públicos são observados. Ademais, a admissão de servidores sem concurso público nos gabinetes de parlamentares afronta o art. 37 da Constituição Federal, que trata da administração pública.

Assim, a extravagância do dinheiro público com a manutenção dos gabinetes de parlamentares federais, em Brasília e nos Estados, repletos de elementos apadrinhados ineptos, ancorados no cabide de emprego e alguns nem dão expediente, mas recebem nas folhas de pagamento, tem de ser moralizado. Os servidores de gabinetes de parlamentares deveriam ser exclusivamente indivíduos concursados, do quadro do Legislativo, para servir a qualquer parlamentar e partido.

Portanto, não existe explicação lógica, racional para a quantidade de servidores em gabinetes de parlamentares. Por acaso, em suas atividades privadas, esses espertalhões parlamentares contratariam tantos empregados se as despesas fossem bancadas do seu próprio bolso?
Júlio César Cardoso
Servidor federal aposentado
Balneário Camboriú-SC