A luta do luto infantil em tempos de COVID-19
(*) Elaine Oliveira Santos
O luto ocorre quando há possibilidade ou realidade de perder algo importante para nós, como pessoas, sonhos, emprego, projetos de vida. Criança, também sofre luto e a maneira com que enfrenta as perdas vai determinar, em muito, seus comportamentos futuros. Portanto, é necessário não encarar o luto infantil como algo que será superado com compensações, esquecido, ou ainda, que a criança não tem noção.
A área de Psiquiatria Infantil e Adolescente da Universidade de Oxford, liderada por Alan Stein, publicou no jornal “The Lancet: Child and Adolescent Health”, que o diálogo honesto e eficaz sobre a pandemia, incluindo a morte e o morrer, o estresse e a tristeza dos pais é vital para a saúde psicológica e bem-estar das crianças.
A Dra. Louise Dalton diz: “Não contar a eles não os protege” e a Dra. Elizabeth Rapa: “até as crianças estão cientes das mudanças que aconteceram na vida de todos”, como: não sair mais de casa para ir à escola e encontrar professores e amigos na chegada e os pais na saída ou ao chegar em casa do trabalho para brincar, não ter mais a viagem das férias que estava programada, não frequentar os playgrounds dos condomínios ou parques da cidade, e o mais inesperado para elas, o medo da possibilidade ou real perda das pessoas que mais ama.
Observamos o surgimento de medo, culpa, insônia, incontinência urinária, ansiedade, inquietação, pesadelos, baixa autoestima, irritação, isolamento emocional e baixo rendimento escolar das crianças que passaram por estas perdas. A psicóloga Milena Magiolo, afirma que “o mais importante é ficar atento ao comportamento que elas apresentam e dar o apoio necessário para que haja o entendimento dos acontecimentos”.
E como ajudar a criança vivenciar o processo do luto? Lide com o luto em família compartilhando a dor, a tristeza e outros sentimentos, assim fortalecerá os laços para a recuperação. Ajude a criança entender que não é ruim e não faz mal sentir-se triste. É um direito. Não finja que nada aconteceu, isso pode gerar insegurança e sentimento de estar perdida.
Jamais passe a ideia que deve esquecer a pessoa morta, os amigos que não encontra mais, as atividades que não realizou, ela amava essas pessoas e tinha expectativas. O que precisa é aprender a viver sem a presença dessas pessoas e reorganizar as expectativas.
Incentive a criança falar sobre seus sentimentos, o que a entristece, o que pensa, falar da falta que sente. Mostre para a criança que também está triste, que ela pode te ajudar e você a ela e juntos passarão pelo luto e se recuperarão ficando com as boas lembranças e aprendizados. Isso a conforta e deixa segura para falar com alguém que também sente o que ela sente.
Estimule as memórias, mostre fotos (não as esconda), recorde momentos felizes, acontecimentos marcantes, histórias das situações vividas. Em algum momento pode ser que ela chore, expresse sua tristeza. Permita. Você terá a oportunidade de conversar e ajudar na elaboração desse sentimento.
À noite é o momento mais difícil, quando a criança questiona: “o que será de mim?”, “Onde tal pessoa está agora?”. Pegue na mão dela, fique ao lado, mostre que ela não está sozinha. Durante o dia a ocupe com atividades que auxiliem viver uma rotina sem as pessoas ou atividades que está sentindo a perda. E caso a criança ainda continue afetada ou não mostre sinal de recuperação busque ajuda profissional para apoiá-la nesse momento. O mais importante será esta criança vivenciar seu processo de luto para prosseguir sua vida com saúde física e emocional.
(*) Elaine Oliveira Santos é pedagoga, especialista em Dinâmica dos Grupos e professora da Área de Educação da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional UNINTER