Barragens subterrâneas
Em 2.001, meu amigo Marcílio Dias Pereira convenceu-me que, pela qualidade dos meus artigos, eu deveria escrever para o mundo e não somente para nossa cidade de Catanduva. Além de Ciência e Tecnologia e Religião, passei a estudar soluções políticas que outros países fazem e que poderíamos implementar, ou seja, passei a escrever e enviar para vereadores, deputados e senadores.
Escrevo na esperança de convencer pessoas e políticos de desastres climáticos a soluções tecnológicas que despertem nosso gigante adormecido para tornar o potencial em potência. É uma ação quase sem esperança, haja vista que meu antigo colega do INPE, o doutor Carlos Nobre, alerta para seca da Amazônia há uns quarenta anos e, mesmo hoje, muitos ainda não enxergam e não entendem.
O ser humano aqueceu o planeta que está causando ou agravando essas catástrofes climáticas que vemos. As bactérias demoraram 3 bilhões de anos para tornar o ar respirável, mas em algumas centenas de anos o ser humano pode tornar o planeta inviável para a humanidade de hoje.
Já escrevi muitos artigos sobre recuperação de nascentes, amenização do calor nas cidades, soluções para reduzir enchentes, coleta de chuva, especialmente no nosso Nordeste (melhor solução para a seca, cavar poços é a pior), plantas resistentes à seca e muitas outras soluções que a Embrapa desenvolveu para o Brasil. Agora, tento convencer os representantes a contratar como assessor de gabinete algum profissional que faça a ponte entre produtores rurais e Embrapa e outros institutos da área.
Outro projeto que deputados e senadores podem financiar com suas emendas individuais do orçamento, além das cisternas, é o das barragens subterrâneas. Elas são paredes impermeáveis fixadas dentro da terra, construídas no ponto do terreno onde escorre o maior volume de água durante as chuvas. Feitas de plástico polietileno, com até 100 metros de comprimento, elas conseguem reter e armazenar a água no solo por vários meses. Com a umidade garantida, a plantação pode ser feita nos períodos de estiagem.
A Embrapa trabalha com essa tecnologia há mais de 40 anos, mas agora, criaram o projeto ZonBarragem para mapear as áreas mais indicadas onde devam ser construídas. O mapeamento feito pelo ZonBarragem leva em conta o tipo de solo, o relevo, que não pode ser muito acidentado, deve ser suave e ondulado, e o clima da região, precisa chover o suficiente para acumular água. Outro fator fundamental é o tipo de rocha, rocha sedimentar ou porosa perde a água em poucos dias, é preciso terreno com rocha cristalina e dura, que favoreça a retenção da água.
Em Alagoas, a Embrapa mapeou 200 locais favoráveis para a construção de barragens subterrâneas. A Embrapa espera fazer o mesmo na Paraíba e Sergipe. Cada barragem custa cerca de R$ 20 mil. Se cada deputado federal destinar um milhão de reais de sua emenda, serão construídas cerca de 30 mil barragens por todo o Brasil, por ano, muito melhor que pontes que ligam nada a lugar nenhum. E é uma grande oportunidade de ser cristão, beneficiar pessoas que não poderão retribuir… Talvez votando, quem sabe?
Mario Eugenio Saturno (fb.com/Mario.Eugenio.Saturno) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano