Inteligência Artificial: antídoto para a ineficiência na saúde brasileira?
por Rodrigo Pereira*
Após a chegada do ChatGPT, o mundo tem se debruçado sobre a Inteligência Artificial (IA) com um olhar ainda mais curioso e atento. Particularmente na medicina, essa tecnologia tem se mostrado não apenas uma tendência, mas uma necessidade emergente.
Acelerar descobertas de medicamentos, identificar precocemente doenças e auxiliar no diagnóstico médico são alguns exemplos do potencial revolucionário que a IA oferece ao setor. Contudo, existe um campo menos explorado, mas de uma enorme importância: a eficiência operacional no ecossistema de saúde.
Nesse sentido, é bem comum encontrarmos discussões em torno da IA que focam em aspectos bem “atraentes” e até com toques futuristas. No entanto, o que raramente ganha os holofotes, mas que não deixa de ser importante, é a capacidade deste recurso de otimizar operações, simplificar processos e melhorar significativamente a experiência dos pacientes e profissionais.
De acordo com um estudo divulgado pela McKinsey, consultoria de gestão que atende empresas líderes, governos, organizações não governamentais e organizações sem fins lucrativos, desafios burocráticos no setor de saúde nos Estados Unidos custam valores vultuosos. Dos quase US$ 4 trilhões gastos anualmente na área, cerca de um quarto vai para despesas administrativas.
O mesmo estudo ainda indica que ações de otimização podem trazer economias próximas a um quarto de trilhão de dólares. E não é de nos surpreender que a maioria dessas ações tem relação direta com a gestão de dados e a aplicação da Inteligência Artificial.
No Brasil, por exemplo, apesar de não contarmos com um estudo tão abrangente quanto o americano, podemos inferir um panorama similar. Isso porque a conhecida burocracia no país, aliada a uma defasagem tecnológica em comparação aos mercados mais avançados, sugere um cenário que clama por inovações. E é neste ponto que a IA pode desempenhar um papel importante para a resolução do problema no setor.
Nesse contexto, podemos pensar em plataformas de comunicação inteligentes que agilizam a troca de informações entre profissionais de saúde, bem como sistemas que utilizam Processamento de Linguagem Natural (PLN) para extrair dados de prontuários, garantindo mais agilidade e precisão nos tratamentos.
Além disso, podemos citar a automatização de tarefas administrativas, como agendamentos e faturamentos, liberando profissionais de saúde para o que realmente importa: cuidar das pessoas.
A combinação de blockchain e IA pode finalmente possibilitar um compartilhamento seguro e íntegro de informações médicas, a tão sonhada interoperabilidade dos dados e algoritmos inteligentes podem prever demandas e enviar alertas, possibilitando ações preventivas e até mesmo prescritivas, otimizando recursos.
Sob esse aspecto, ao olharmos para o setor de saúde brasileiro, fica evidente que a IA não é apenas uma ferramenta de otimização, mas, sim, uma aliada na sustentabilidade do setor, uma vez que suas aplicações não visam apenas eficiência financeira, mas seguramente também garantem uma melhor experiência para o paciente.
Já para os médicos, a Inteligência Artificial possibilita que eles se concentrem no que verdadeiramente amam e se propõem a fazer: cuidar dos pacientes. Afinal, no cerne da medicina está o desejo intrínseco de proporcionar saúde, bem-estar e uma melhor qualidade de vida a todos.
Em um momento em que a tecnologia avança a largos passos, é essencial que o setor de saúde brasileiro aproveite o melhor que essa tecnologia pode oferecer. E, desse modo, garantir um setor de saúde eficiente, sustentável e, acima de tudo, ainda mais humano.
*Rodrigo Pereira é CEO da A3Data, consultoria especializada em dados e Inteligência Artificial com vários projetos na área de saúde.