Quando algumas pessoas não nos interessam mais
Com o envelhecimento vem junto uma qualidade para aqueles que são homens de bem: não importar-se mais com aquilo que lhe trás desconforto; uma palavra mal falada de alguém, uma ofensa cheia de mágoas, já não tem tanta importância. Ninguém é dono da razão e tudo pode ser discutido e em toda discussão nasce a luz. Quando envelhecemos não precisamos mais de elogios, de quem nos passe a mão na cabeça, porque nada disto tem mais valor. Muito menos que nos defendam! No envelhecimento já construímos nossa vida pessoal e já sabemos distinguir com precisão quem são as pessoas que nos rodeiam. Se tem intenções de aproveitar-se da amizade para mostrar aos outros o quanto é importante seu relacionamento. No envelhecimento não precisamos mais nos firmar na aparência, nem manter amizades apenas por conveniência. Isto nos dá uma sensação de liberdade tão intensa, porque não precisamos de ninguém mais para nos apoiar, porque nossa construção já está pronta. Esta independência de decidir o que você quer só acontece no envelhecimento e isto passa a ser uma escolha. As preferências pessoais passam a ser mais amenas, com menos raiva e menos mágoa. A expectativa de ser melhor que todos e achar interessante ser importante e reconhecido, simplesmente, desaparecem. Por quê? Porque só os imaturos se sentem necessários disto. O envelhecimento nos deixa mais humildes e menos rebeldes. E aí você reflete e acha tolo aquele que quer ser importante a todo custo, sem ter talento para isto. Mas isto também não nos interessa mais nesta fase da vida! O amadurecimento que o envelhecimento trás à pessoa é extraordinário; trás uma vida pacífica, e passa a ser importante sua paz interior sem incomodar com o que o vizinho produz, sem dar valor às comparações para evitar invejas. Ficamos condolentes com os jovens que querem aparecer a todo custo sem ter talento para isto e para o envelhecimento isto não nos interessa mais.
Aí as coisas importantes para uns, passa a ser desimportantes para nós. De repente olhamos nosso jardim e percebemos como as primaveras estão floridas e enchem de alegria e vivacidade a nossa paisagem; acompanhamos com calma o nascimento de cada botão da rosa que insiste na rebrota e no meio da grama surge o bambuzal antes desaparecido. Renascendo! As descobertas do envelhecimento tornam os pássaros do nosso quintal muito mais coloridos e barulhentos; o gato que dorme na sala ronronando é nosso amigo fiel, ele jamais lhe virará as costas; o cãozinho que você ama está aí abanando o rabo quando recebe o carinho daquele que envelhece pacificamente e fez a opção em ser feliz. A chuva rega os pés de tomates plantados com carinho e a colheita daqueles frutos vermelhinhos nos deixam muito mais felizes do que fazer parte de grupos da rede social, onde lá somos apenas um nome a mais. A sincronia com a natureza e com Deus é algo muito natural no envelhecimento e trás paz à alma, amor à família, carinho especial aos amigos, àqueles verdadeiros companheiros que aceitarão nossos defeitos com complacência. Não precisamos de falsos companheiros e eles não nos fazem falta!
No envelhecimento estamos ungidos pela paciência, pela tolerância e somos complacentes com aqueles que querem e teimam em importunar o nosso dia! A busca da felicidade sempre será eterna!
“Vem, envelhece comigo. O melhor ainda é viver a segunda metade da vida, para qual a primeira foi feita. Nossos tempos estão em mãos, DELE que diz: “Eu planejei o todo. A mocidade só mostra a metade. Confia em Deus. Vê tudo e não temas!”
(Browning – 1812 -1889).
Izaura Aparecida Tomaroli Varella
Acadêmica da Academia de Letras de Cianorte
Cadeira Número 1