Startups early stage seguem resilientes no turbilhão do mercado?
*André Wetter, CBO e cofundador da a55
O mar não está para peixe, mas as startups early stage seguem firmes e em crescimento, mesmo diante do turbilhão do mercado. Segundo o relatório Tech Valuations 2022 da CB Insights, empresa privada com plataforma de análise de negócios e banco de dados global, no quarto trimestre de 2022, as startups em estágio de investimento seed e anjo tiveram um crescimento de valuation de 3%, comparado com mesmo período em 2021.
Em contrapartida, todas as medianas de valuations de startups séries A, B, C e D caíram, sendo mais acentuado para as startups series C (-50%). Existe espaço para crescer ainda assim? Minha resposta é: mas com um racional consciente, é possível sim. Crescimento desenfreado a qualquer custo não é a realidade atual. O momento é de escalar dentro dos limites da pista, sem ultrapassar a velocidade em trechos sem radar e nem ultrapassar perigosamente.
Podemos atribuir algumas razões para chegar nesse estágio. A primeira delas é o crescimento acentuado dos juros em todo mundo. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (FED), órgão governamental responsável pela economia norte-americana, sinaliza que aumentará as taxas de juros em 2022 e 2023, com a previsão de pelo menos três aumentos de 0,25% ao longo desses dois anos. No entanto, o FED enfatiza que os aumentos serão graduais e que a política monetária permanecerá acomodatícia.
No Brasil, o Banco Central começou a aumentar as taxas de juros em 2021 para combater a inflação crescente. Em 2022, o aumento manteve-se constante, em consequência da inflação ainda elevada, um déficit fiscal significativo e a necessidade de atrair investimentos estrangeiros. A perspectiva de queda das taxas de juros dependerá da evolução da economia global, dos índices de inflação e do cenário econômico externo, como o conflito armado na Ucrânia.
Outro aspecto a se considerar para explicar o cenário de valuations das startups é a estagnação do mercado de IPOs. Tal estagnação se dá justamente pela incerteza econômica global. No entanto, as perspectivas para o mercado IPO em 2023 são um pouco mais otimistas. Com a economia se recuperando a passos lentos, empresas já estão considerando retomar seus planos de IPO. Além disso, o mercado de fusões e aquisições está aquecido, o que pode levar a uma arrancada dos IPOs. Em 2022, o mercado de M&A experimentou uma recuperação significativa após o impacto da pandemia de COVID-19, com inúmeras transações concluídas em todo o mundo.
As fusões e aquisições podem ser uma forma eficaz de as empresas expandirem seus negócios e aumentarem sua participação de mercado, o que pode ajudá-las a enfrentar melhor os desafios e riscos no ambiente competitivo. E principalmente, a aquisição de outras empresas pode permitir que os negócios diversifiquem sua base de clientes, produtos e serviços. Assim, é possível reduzir sua dependência de um único segmento de mercado e reduzir o risco de perda de receita.
Para sobreviver em um cenário como o atual, as operações precisam ser profundamente eficientes. Não que antes isso não fosse uma necessidade, mas atualmente, não existe espaço para correr grandes riscos.
* Com formação em Administração de Empresas pela Universität St. Gallen (HSG), na Suíça, André Wetter é confundador e CBO da a55, fintech brasileira especializada em crédito para empresas da nova economia.