Sustentabilidade para um futuro industrial resiliente
Carlos Urbano
Não há dúvida de que a pandemia mudou para sempre nossa perspectiva do mundo, nos obrigando a reexaminar nossa vulnerabilidade aos fenômenos naturais.
Muitos estão atribuindo o impacto da pandemia à combinação de urbanização, globalização e densidade populacional. Outra consequência dessas realidades combinadas é o aumento das emissões de CO2 e outros efeitos ambientais negativos. Apesar da necessidade de focar nas circunstâncias imediatas, as prioridades fundamentais não mudaram. O principal desafio da nossa geração continua sendo a mudança climática. Porque por trás dessa onda de Covid-19 está um tsunami de mudança climática vindo na nossa direção.
A boa notícia é que somos a geração que sabe disso. Somos a geração, e provavelmente a única geração, que pode mudar a trajetória das emissões de carbono e, portanto, das mudanças climáticas. Em um tempo no qual algumas pessoas veem a ecologia e a tecnologia como opostas, a realidade é que a tecnologia nos permite unir progresso e sustentabilidade, levando a uma resiliência mais forte. Existem duas tecnologias principais que ajudam a resolver a equação das mudanças climáticas: o digital e a eletricidade.
Um futuro inteligente
A primeira tecnologia que está transformando a humanidade é a digital. Pense em como as tecnologias digitais revolucionaram a forma como trabalhamos e vivemos juntos. O primeiro episódio da internet foi sobre conectar pessoas com pessoas. O próximo será sobre revolucionar a maneira como vivemos e nos conectamos com o ambiente. Será uma questão de máquina para máquina e de pessoas para máquinas. Isso é possível pela combinação da Internet das Coisas (IoT), que conecta tudo ao nosso redor, e Big Data, que trata de coletar, agregar e analisar grandes quantidades de informações em data centers para fornecer insights importantes. E, hoje, a capacidade de treinar máquinas e algoritmos para extrair sentido de todos esses dados é virtualmente ilimitada.
A digitalização já está criando um futuro mais desejável – uma existência centrada no ser humano com casas e edifícios inteligentes, manufatura inteligente, infraestrutura inteligente e cidades inteligentes. Essas inovações usam dados e tecnologias digitais para nos ajudar a compartilhar e conservar melhor os recursos que estamos consumindo.
Um futuro verde
A segunda tecnologia, que provavelmente é menos intuitiva porque já existe há muitos anos, é a eletricidade verde. Pense em energia solar, microrredes, prédios net-zero e veículos elétricos. A eletricidade é a única forma de descarbonizar a energia. Então, prepare-se para um mundo que vai ser muito mais elétrico. Mas, daqui para a frente, não vai ser a mesma eletricidade. Vai ser eletricidade renovável. O futuro é verde.
Quatro chaves para a sustentabilidade
Na Schneider Electric, temos trabalhado com muitos grupos de especialistas e outras empresas para encontrar a equação que nos leva de onde estamos para o futuro sustentável e resiliente de que precisamos. Vemos quatro variáveis simples na equação:
- Digital:podemos ser muito mais eficientes em todo lugar, graças à tecnologia digital. Aplicando-a, seja em edifícios inteligentes, manufatura inteligente ou cidades inteligentes, podemos alcançar mudanças significativas em eficiência em relação ao que somos hoje.
- Circular:trata-se de garantir que tudo o que fazemos cultive uma economia mais circular do que a que temos.
- Elétrica:nos próximos anos, a proporção de eletricidade em tudo dobrará. Falamos muito sobre eletricidade, mas ela é hoje apenas cerca de 20% da energia que consumimos. Em 20 anos, vai dobrar para 40%.
- Renovável:hoje, a eletricidade é apenas 6% renovável. Em breve, será 40%.
E não se trata de esperar que uma dessas variáveis se torne presente para começar a focar em outra. Devemos trabalhar com todas elas em paralelo. Não podemos esperar, porque tudo o que construímos hoje estará aqui por muitos anos. Se quisermos enfrentar as mudanças climáticas, devemos implementar todas essas mudanças agora.
Sustentabilidade cria resiliência
Tanto a crise pandêmica quanto as mudanças climáticas são as principais ameaças à sociedade. Agora, mais do que nunca, precisamos que nosso mundo seja sustentável. Precisamos que a humanidade seja resiliente. E precisamos manter o foco em acelerar o momento que já estava em andamento para criar um futuro resiliente e sustentável.
O Covid-19 não mudou o fundamental. Em vez disso, enfatizou a necessidade de agilidade e adaptação. Numa economia sob pressão, em um mundo fragilizado, ele é um apelo à conscientização, à eficiência e à sustentabilidade. Todas as empresas podem fazer melhor e ser mais sustentáveis na forma de conduzir seus negócios.
* Carlos Urbano é diretor de Industrial Automation da Schneider Electric Brasil