Excesso de chuvas pode afetar parte da safra de verão 2020/21

Redação com Agência de Notícias

A safra de grãos de verão da temporada 2020/21 está em andamento e pode ser afetada pelo excesso de chuvas que está ocorrendo neste mês de janeiro. De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), por enquanto a expectativa de produção aponta para um volume de 24,2 milhões de toneladas de grãos, volume 3% abaixo do que foi colhido na safra passada.

O chefe do escritório Regional da Seab em Cianorte, Francisco Cascardo, disse que se as chuvas continuarem pode provocar atraso na colheita.  “A persistência poderá provocar atraso na colheita. Por enquanto, não há avaliação de perdas na soja em função das chuvas, mas, se persistirem até a colheita, poderá trazer prejuízos”, esclareceu. A previsão da colheita é para a segunda quinzena de fevereiro.

Além disso, segundo o gerente, esse clima é mais propício ao surgimento de doenças. “Chuvas intermitentes dificultam aplicação defensivos”, disse.

Segundo Cascardo, levantamento aponta que 97% das lavouras terão uma situação normal de produção, e de 2 a 3% terão uma colheita ruim. “Essa perda de 3% ainda é considerada normal em toda safra”, afirmou.

A safra tem uma estimativa normal e a previsão de produtividade média de 3,6 mil quilos por hectare. A cultura na região de Cianorte ocupa uma área de 10 mil hectares. “Isso é uma produtividade muito boa, não é espetacular como tivemos em outros anos, mas é satisfatória, que remunera bem o produtor. Porém, já tivemos produções que chegaram a 4, 8 mil quilos por hectare, mas ainda é muito boa”, reforçou Cascardo.

Soja

Segundo o economista do Departamento de Economia Rural (Deral), Marcelo Garrido, diante do cenário de chuvas quase que diárias em todo o Paraná, a soja também poderá ser afetada diante do quadro atual. A cultura está em desenvolvimento, ocupando uma área de 5,58 milhões de hectares e com uma expectativa de produção de 20,4 milhões de toneladas, volume 2% inferior ao que foi colhido no ano passado.

A safra 20/21 começou com o plantio atrasado por causa da seca severa ocorrida no ano passado, que persistiu até o mês de dezembro. Em meados de dezembro, as chuvas retornaram, o que ajudou na recuperação da lavoura, situação que deixou produtores e técnicos otimistas. Mas agora, em janeiro, o excesso de chuvas já é prejudicial, salientou Garrido.

A persistência das chuvas poderá provocar um atraso na colheita, advertiu o economista do Deral. Ele antecipou que poderá haver redução de produtividade e de qualidade dos grãos em função das doenças causadas pelo aumento da umidade. O produtor está com dificuldades para entrar a campo e fazer os tratos culturais necessários. Alguns produtores estão recorrendo à aviação agrícola para fazer as pulverizações, prática não muito comum no Paraná.

Segundo Garrido, as regiões do Estado mais preocupantes são as Oeste e Sudoeste, onde a chuva está sendo mais volumosa, embora elas estejam ocorrendo em todas as regiões do Estado, mas com impacto menor.

Se as chuvas são preocupantes de um lado, de outro os produtores comemoram a boa fase de comercialização da soja, que vem desde o ano passado. Segundo o Deral, o preço médio da soja no Paraná no mês de janeiro foi de R$ 151,00 a saca com 60 quilos, valor quase que o dobro do preço praticado há um ano, quando a saca era comercializada a R$ 78,00. Os preços estão sendo sustentados pela cotação elevada do dólar e maior demanda no mercado internacional

Com isso, os produtores estão acelerando a comercialização. Até agora, 43% da produção já está vendida, o que equivale a um volume de 8,9 milhões de toneladas. No ano passado, nessa mesma época, 26% da safra estava vendida, que correspondia a um volume de 5,2 milhões de toneladas.

De acordo com o Deral, já começou o plantio de soja da segunda safra com uma área pequena no Estado. Nesta safra 20/21 serão plantados quase 39 mil hectares e expectativa de produção é de 107 mil toneladas, volume 20% acima do que foi colhido no passado, que totalizou 89,5 milhões de toneladas.

Milho

As chuvas também estão afetando as lavouras do milho da primeira safra, que estão a campo, com impacto maior sobre as regiões Oeste e Sudoeste, salienta o analista do Deral, Edmar Gervásio. Segundo ele, 72% da produção de milho da primeira safra se concentra na região sul do Estado, nas regiões de Guarapuava, Ponta Grossa e Curitiba.

O problema maior está nas regiões Oeste e Sudoeste, onde concentra cerca de 30% da produção de milho de primeira safra, e as chuvas estão sendo mais volumosas com impacto maior sobre as lavouras, disse o técnico.

A área ocupada com milho de primeira safra é de 359 mil hectares, com produção esperada de 3,4 milhões de toneladas. Esse volume é 6% inferior ao colhido no ano passado que foi de 3,56 milhões de toneladas. Segundo Gervásio, o potencial de produção do milho de primeira safra era maior e foi frustrado pelas chuvas, que está afetando a produtividade. “Mas a produção ainda está dentro do esperado e é cedo para falar em queda de produção”, avaliou.

O milho é outra commoditie com demanda acelerada no mercado internacional e isso está se refletindo internamente, situação que também vem desde o ano passado, destacou Gervásio. A comercialização está acelerada, com 17% da safra já vendida, sendo que na safra anterior, nessa mesma época, cerca de 6% estavam vendidos.

O motivo das vendas aceleradas é o preço recorde do milho, sendo comercializado em média por R$ 70,00 a R$ 72,00 a saca esta semana. Em novembro, o milho foi vendido, em média, por R$ 67,00 a saca; e em dezembro, por R$ 63,00.

Segundo o Deral, o atual preço do milho representa um aumento de 80% sobre os preços praticados em janeiro do ano passado, quando o grão foi comercializado, em média, por R$ 39,00 a saca. O preço está sendo sustentando pelo elevado valor do câmbio e pela demanda interna que está alta. As vendas estão sendo feitas 100% no mercado interno, nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estados que estão registrando aumento na produção do rebanho suíno.

A segunda safra de milho ainda não foi plantada, mas o Deral estima uma área ocupada de 2,4 milhões de hectares com a cultura e produção de 13,6 milhões de toneladas. O plantio deve evoluir nos meses de fevereiro e março.

Volume de chuva de janeiro pode atingir recorde de 371 milímetros

Até o dia 28 de janeiro, na região de Cianorte, o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) registrou 348,6 milímetros de chuva. Segundo o meteorologista, Paulo Barbieri, o janeiro mais chuvoso dos últimos anos foi em 2005, quando o Simepar registrou um volume de 371,6 milímetros.

A média histórica registrada em janeiro é de 223 milímetros. Em 2020, foi registrada uma precipitação de 186,6 milímetros e em 2019, foram 156,6.

Conforme o meteorologista, as chuvas devem continuar até a primeira quinzena de fevereiro. “O fluxo de umidade que vem do norte gera muita instabilidade e mantem a chuvas típicas de verão”, afirmou.

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