“Embora o título de anticorpos neutralizantes tenha caído para níveis baixos seis meses após a segunda dose, uma terceira dose foi altamente eficaz em relembrar uma resposta imune específica para o Sars-CoV-2, levando a um salto significativo nos níveis de anticorpos”, escreveram os pesquisadores, ligados ao centro de controle de doenças da província de Jiangsu, à Sinovac e a outras instituições chinesas.
Estudos com a terceira dose já foram realizados por pesquisadores responsáveis por outros imunizantes, como o da AstraZeneca. No caso da pesquisa chinesa, o protocolo dos ensaios foi alterado em junho do ano passado para avaliar os benefícios de uma terceira dose do imunizante.
Apesar do aumento do número de anticorpos gerado pela terceira dose, os cientistas ponderam na pesquisa que a decisão de oferecer a dose adicional deve levar em conta muitos outros fatores, como a efetividade das vacinas, a situação epidemiológica e a oferta dos imunizantes.
“No curto a médio prazo, garantir que mais pessoas completem o esquema atual de duas doses de Coronavac deve ser a prioridade”, escreveram os pesquisadores. No Brasil, a secretária Rosana Leite afirmou que a cobertura de regiões de fronteira é a maior preocupação no momento, para impedir o avanço da variante delta.
A queda no nível de anticorpos neutralizantes com o passar do tempo, verificada pelo estudo chinês, não significa que a população vacinada no início do ano com a Coronavac está desprotegida, explica Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. Segundo o especialista, é natural que o nível de anticorpos diminua ao longo do tempo.
Os anticorpos são apenas um dos componentes de defesa do organismo e, no caso da covid-19, ainda não está claro o papel que eles têm na proteção da população. A memória das células e outros indicadores podem desempenhar uma função importante na proteção. Os pesquisadores ainda não são capazes de dizer quantos e quais marcadores garantem que uma pessoa está ou não protegida de se infectar com o coronavírus.
Para Kfouri, a pesquisa também não deve ser entendida como um sinal para mudar a estratégia de vacinação no Brasil e aplicar uma terceira dose da Coronavac. Estudos no mundo real, sobre infectados e hospitalizados após a vacinação, são os melhores indicativos da eficiência dos imunizantes e de uma eventual necessidade de oferecer doses de reforço para a população.