Pandemia da Covid faz setor de eventos perder R$ 25 bilhões no Paraná
Por Bem Paraná
A pandemia do novo coronavírus, é bem verdade, impactou a economia do Brasil como um todo. Um setor, no entanto, está tendo de lidar com prejuízos maiores do que a média. É o mercado de eventos, um dos primeiros a paralisar as atividades por conta da crise sanitária e também um dos últimos que está retomando as atividades, após um ano e meio enfrentando restrições severas para funcionamento.
De acordo com dados de um levantamento preliminar da seccional paranaense da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC-PR), as perdas do setor, na economia do Paraná, chegam próximo de R$ 25 bilhões. Uma perda que também pode ser evidenciada na arrecadação de impostos em Curitiba, que é o segundo principal destino nacional de negócios e eventos, perdendo apenas para São Paulo.
“Questão de ISS [Imposto Sobre Serviços] teve uma perda absurda, deixamos de arrecadar uma quantidade absurda de impostos”, comenta Fábio Skraba, presidente da ABEOC-PR. “Para você ter ideia, em 2020 o ISS gerado pelo segmento M.I.C.E. [sigla em inglês para eventos como reuniões, incentivos, congressos e exposições] em Curitiba foi de R$ 3,5 milhões. Em 2021, a expectativa de ISS é de somente R$ 1 milhão e a expectativa de ISS para o primeiro semestre de 2022 é de somente R$ 250 mil”.
Conforme Paulo Iglesias, presidente do Curitiba Convention & Visitors Bureau (CCVB), essa situação reflete um cenário no qual, a partir de março, pelo menos 99% dos eventos que estavam programados foram cancelados ou adiados. E entre aqueles que foram adiados, muitos estavam agendados para acontecer 2021, mas também não puderam ser realizados presencialmente por conta da persistência da pandemia.
“Alguns eventos foram transferidos para 2021, mas a grande maioria também já cancelaram ou remarcaram para frente. Alguns se transformaram em eventos online, mas só alguns, não muitos”, explica Iglesias.
Retomada a partir de outubro, mas recuperação só em 2024
Nas últimas semanas, com a flexibilização das medidas restritivas para enfrentamento da pandemia no Paraná e em Curitiba, o setor de eventos já começou a registrar uma retomada, com aumento na busca pelas empresas para verificar a disponibilidade de agenda e locais para realização de eventos, por exemplo. Dessa forma, a expectativa é de que a partir de outubro o setor volte a operar de uma forma mais próxima do que se consideraria normal, o que já seria importante para dar um fôlego para quem ficou praticamente um ano e meio sem faturamento.
Ainda assim, o caminho até a plena recuperação deve ser longo. Bem longo. “No [setor de] eventos, é 2023, 2024 para começar a querer respirar um pouco e final de 2024, começo de 2025 para ter um faturamento maior”, aponta Skraba, que faz ainda um apelo aos governantes.
“Estamos aptos, seguindo regramento, de retornar. Independente de se tivermos variantes, estamos realmente preparados”, afirma o presidente da ABEOC-PR. “A gente precisa que haja flexibilização nos decretos. Mesmo retrocedendo a bandeira [para enfrentamento da pandemia em Curitiba], deixe um porcentual para a gente continuar a trabalhar. Não precisa restringir 100%, deixa 30, 35% [da capacidade de público], como com as igrejas. É o mínimo para a gente trabalhar, manter as empresas vivas”.
Conseguir mão de obra pode ser uma dificuldade no ‘retorno’
Recentemente, uma pesquisa feita pela USP mostrou que as atividades características do turismo, que englobam 21 diferentes CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), acabam movimentando, na prática, 571 setores diferentes da economia. Uma movimentação que gera um efeito em cascata, tanto para o bem como para o mal.
E no que diz respeito ao setor de eventos, uma situação que tem gerado preocupação diz respeito à mão de obra. “Uma dificuldade para eventos é mão de obra especializada nessa retomada. Pelo fato do profissional ter sua subsistência em risco, foi proibido de trabalhar, ele teve que buscar outras atividades. Quando retornarmos com maior intensidade, vamos medir se esses profissionais retornarão às atividades anteriores ou não. São montadores, operador de som, recepcionistas, cerimonialistas, Tivemos buffets que se adaptaram para restaurante. Temos cinegrafistas, cenografistas, fotógrafos, segurança, limpeza… Uma infinidade de profissionais que não sabemos se retornarão ou não”, diz Fábio Skraba, presidente da ABEOC-PR.
Turismo
Hotéis ainda estão no vermelho
No setor turístico, os dois últimos meses deram sinais de recuperação aos hotéis de Curitiba, ainda que sinais tímidos. Em julho, por exemplo, quando o turismo de lazer teve crescimento por conta do período de férias escolares, a taxa de ocupação na rede hoteleira da cidade chegou próximo de 40%, conforme dados do Curitiba Convention & Visitors Bureau (CCVB). Em agosto, porém, houve uma queda e, até o dia 19, essa taxa estava em 37%. Ainda assim, os resultados são muito melhores do que aqueles verificados no momento mais grave da pandemia, em março último, quando a ocupação ficou em torno de 15%.
O problema, no entanto, é que os hotéis, em geral, precisam de uma taxa de ocupação próxima de 50% para conseguir um equilíbrio entre despesas e receitas. “A grande maioria dos hotéis está pondo dinheiro para trabalhar, estão fechando o mês no vermelho”, diz Paulo Iglesias, presicente do CCVB, que faz um apelo pela renovação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), do governo federal. “Se não for renovado [o programa], os funcionários voltam nas próximas semanas, a folha aumenta e vai ser pior daí, porque o que estamos faturando hoje não paga as contas”, diz Iglesias, comentando ainda que tem um “otimismo muito cauteloso” para a retomada do setor turístico e do mercado de eventos. “Algumas pessoas dizem que quando voltar [ao normal] vai ter uma primavera de turismo, todo mundo querendo viajar. Pode ser que aconteça, mas tenho minhas dúvidas”.